quarta-feira, abril 28

Infância – Livros Que Marcaram (Parte 5)
"O livro é um objecto perverso. Se é bom, não o largamos até ao fim, ansiosos por nos deleitarmos um pouco mais com as delicias que ele nos concede. Se é mau, queremos despachá-lo o mais depressa possível, para nos vermos rapidamente livres daquela praga. Sim, porque um livro é um compromisso. Uma vez começado, há que acabá-lo.

Apesar disso às vezes prevarico. Fico a meio, salto para o fim, começo do meio ou do fim para o principio... Um dia mais tarde - às vezes anos mais tarde - lá vou redimir-se e acabar de o ler - mesmo que não seja pela ordem tradicional. Da mesma forma que alguns livros param lá por casa e só são lidos anos mais tarde. Estranho, será?

Já mudei de casa umas dezenas de vezes, e sempre a carregar os meus livritos à costas.. O mais antigos devem ter uns 25 anos de companhia, já. Acho que os livros deviam ser considerados um bem transitório. Depois de lidos, deviam ser dados, vendidos a um alfarrabista, emprestados para nunca mais serem devolvidos, oferecidos à biblioteca da paróquia... enfim, colocados em movimento. Aprisionar um livro no exílio dourado da prateleira da sala é um bocado contranatura. Apesar deste principio ético tenho dificuldade em me separar da maioria dos meus livros. Em cada um deles eu revejo uma fase e um período da minha vida. Ao relê-los - às vezes uma e outra vez - reencontro-me com o eu que eu era e vêem-me à memoria os pensamentos e sentimentos que na altura me foram inspirados pela mesma leitura.

Demasiado saudosista, ligado ao passado? Talvez. anda não consegui economizar o suficiente para o psicanalista, e o sistema de saúde ainda não suporta esse tipo de prestação de serviço. Uma vez fui a psiquiatra da caixa, pois sentia-me ansioso. Saí de lá aterrorizado, pois o tipo era um funcionário publico que percebia menos de estados de alma do que eu... Para já não dizer que trazia uma carrada de drunfos que, se aviasse a receita e os vendesse ali no bairro alto, teria garantido a minha prosperidade económica por uns tempos... E se os tomasse garantiriam a minha sonolência, docilidade e submissão ao sistema durante umas eras. Em vez disso fui dar uma volta pela Europa de saco cama às costas, que se calhar era mesmo o que me estava a fazer falta.

Mas voltemos aos livros. Outro dia pus-me a fazer uma contitas por alto, e entre possuídos, emprestados, pedidos às bibliotecas, surripiados e gamados, calculei que ao longo das minhas 40 verdes primaveras me devem ter passado pelas mãos aí uns 5 000. Isto contando com manuais técnicos, os quais quando são bons também são um prazer de ler.

Os mais relevantes? Sentir-me-ia tentado a dizer todos, cada um à sua maneira. Achei curioso ninguém ainda ter falado na série "15 histórias de...." que eram excelentes. Eram uns calhamaços grandes, com 15 histórias (daí o nome) sobre história, ciência, mitologia grega, e o mais que me não posso já lembrar... Nunca mais os vi. Depois o tradicional: os cinco, os sete, tintim, asterix luky luke... Alguma pornografia em desenhos a preto e branco. Se algum moralista de bairro quiser atirar a primeira pedra que se atreva, pois que era por onde se fazia a aprendizagem sexual da altura. Ou aí ou nas prostitutas. Acho que ainda tive sorte com a via de aprendizagem que me calhou. Além do que, comparando esses quase folhetos com o que se encontra hoje em dia em qualquer tabacaria de esquina, eram praticamente naives.

Mas então, as referências de culto? O Principezinho e o Papalagui. Dos quais devo ter comprado umas dezenas para ir oferecendo a amores e amigos.... Quem é que nunca cativou um amigo?....Curioso é que apesar to todas novas tecnologias, "o Livro" continua a ser aquele imaginário que nunca nos abandona... Ou será possível daqui por uns anos num Blog galáctico, alguma "gota cósmica" lançar o repto de "os DVD's da tua infância" ou os "pen drive com e-books que mais te marcaram?"...Será?” (por VanDerGraff)

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