domingo, julho 4

A “FELICIDADE” TEM COSTAS LARGAS

"Nada me move contra o ser humano Maria de Lurdes Rodrigues, ao pretender ser feliz. A Senhora tem todo o direito a sê-lo.Mas já me sinto impelido a pôr o dedo na ferida, novamente aberta, por esta espécie de ressurreição de uma pretensa “Dona Sebastiana” do Ensino em Portugal.
Julgava-a eu finalmente contente no recato de um cargo, bem remunerado, e nada cansativo, quando, de repente, vem acenar com um livro, como se apenas agora lhe tivessem caído do céu as ideias que tanta falta fizeram antes, para desempenhar o cargo que lhe entregaram sabe-se lá porquê.
Teria todo o direito em se agarrar a esta “bóia se salvação” que é esse “seu” livro (acabado de “inaugurar” com pompa e circunstância por uma dúzia de experientes “nadadores salvadores”, ilustres, mas intelectualmente escleróticos): porém, se tal acontecesse, seria o branquear da sua quota de responsabilidade pelo naufrágio da Escola Pública portuguesa.
Maria de Lurdes Rodrigues afirma, sem o mais leve rubor facial, ter sido muito feliz como Ministra da Educação. Ao ler esta afirmação de M.L.R. tive logo o cuidado de ver se a mesma não lhe teria escapado num qualquer gabinete de psiquiatria. É que – pensei – é uma afirmação falsa, perversa e perigosa. Falsa, porque a felicidade é um sentimento impossível de disfarçar perante o olhar mais desatento. Acresce que tentar esconder das pessoas que somos felizes deve dar uma carga de trabalho enorme e nada gratificante. Sucede ainda que a Ex-Ministra da Educação foi sempre uma mulher nervosa, triste e sombria. E ninguém deverá ser feliz quando parece infeliz. Perversa, porque admite a possibilidade de uma única pessoa ser feliz, apesar de saber que muitas (mais de cem mil professores , pelo menos) se tornaram ou ficaram mais infelizes, em consequência dos seus actos. Perigosa, porque tal “felicidade” , sendo admitida como verdadeira, permite que um só ser humano se realize mesmo sabendo que está a prejudicar milhares de pessoas. Ora, não há nada mais pernicioso e destrutivo do bem comum como essa auto-satisfação egocêntrica interior e exteriormente legitimada."
Cunha Ribeiro

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