domingo, janeiro 8

Despida de alma

Despiu a alma. Vestiu o casaco. Saiu para a rua.
Não precisava olhar o caminho. Era o caminho. Parou no local do costume. A mesma pose do costume.
A pose rigída de quem esquecera já o tempo em que era de outro modo.
Nunca fora de outro modo.

Montra.
Corpo.
Faria os gestos habituais com os clientes habituais.
Venderia o alívio temporário que o corpo proporcionava. Era-lhe indiferente o corpo. Há tanto tempo que não o sentia seu.

As vozes sim violavam-na.
Incomodava-a quando falavam.
As vozes exigiam gente, resposta, atenção.
As horas passavam. Olhava indiferente a rua.
Esperava os homens calados.
Esperava os homens pobres.
Esperava os homens sem alma que a procurariam.

Parada.
Despida de alma.

Da autoria da talentosa-correspondente-exclusiva deste Blog-e-cada-vez-mais-famosa-e-que-já-publicou-um-livro: Encandescente & fotografia de Nicole Otto.
Eu já tenho o livro. E tu?!
De que estás à espera para o comprar?!

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