quinta-feira, julho 7

Uma campanha ainda mais alegre

Como o leitor bem sabe, uma campanha eleitoral divide-se em duas partes principais: uma primeira parte em que os intervenientes não discutem nada de essencial e uma segunda parte em que os intervenientes lamentam que o essencial tenha ficado por discutir. O leitor não deixará de notar que, quando assinalo este divertido facto, estou também a evitar discutir o que é essencial. Sucede que, desta vez, o essencial era ainda mais difícil de discutir. Os partidos foram acusados de não terem debatido o programa da troika, mas entretanto descobriu-se que a troika tem dois programas: o austero e o ainda mais austero. Na dúvida, os partidos optaram por não discutir nenhum, para não baralhar o eleitor.

De resto, quase todas as acusações que se fazem ao desempenho dos partidos durante a campanha são injustas. É falso que não haja divergências de fundo entre o PS e o PSD no que diz respeito ao programa da troika. Por exemplo, Sócrates diz "éfe éme i", enquanto Pedro Passos Coelho diz "femi". É das maiores clivagens ideológicas que registei nos últimos anos. Mesmo no âmbito das medidas que o triunvirato propõe há espaço para a divergência de opinião: basta ver que a troika diverge de si própria, uma vez que o segundo memorando propõe uma austeridade mais austera e rápida do que o primeiro.

Os comícios, cujo ambiente sereno sempre favoreceu o esclarecimento e o chamado debate de ideias, parecem provar que a campanha foi esclarecedora e interessante: há gente que vem do Paquistão de propósito para ouvir José Sócrates falar sobre os co-pagamentos na área da saúde, o que é notável. A rota Islamabad-Évora foi das mais procuradas num ano em o turismo bem precisava desse incentivo. Portugal: o país do sol, do mar e dos co-pagamentos. Não há turista que resista a esta combinação.

Os debates foram muito mais ricos do que os de 2009. Há dois anos falava-se quase exclusivamente das PME, enquanto este ano se discutiu o TVG, a IVG, as PPP e a TSU. Se um problema deseja ser discutido em Portugal, pois que se constitua numa sigla de três letras, a ver se não passa a ser mencionado nos debates.

A verdade é que foi uma campanha interessante para quem a soube ver. E os eleitores que não estejam de má vontade saberão reconhecer que têm um estatuto cada vez mais importante. Pessoalmente, estou muito orgulhoso por, pela primeira vez, ter oportunidade de votar nas eleições regionais alemãs.

Ricardo Araújo Pereira in
Visão


Está tudo dito!

Sem comentários: