quarta-feira, junho 4

País a pontapé

"(...) Mas, felizmente, nem tudo está perdido.
Por estes dias, vamos pôr uma bandeirinha na varanda, o disco do Roberto e do Tony, o cachecol no pescoço e comprar «sem juros, pague depois» aquele plasma muito em conta para ver o Ronaldo em grande e os filmes dos pequenos. Gritaremos até às entranhas pela pátria, pela finta, pelo cruzamento, pelo remate. Faltaremos ao trabalho, à família, aos amantes, à «manif» e aos compromissos. Em Junho seremos todos portugueses, todos iguais, todos diferentes: ninguém cobrará dívidas, até porque ninguém as pagaria. Estaremos todos por Portugal em harmonia fiscal. Chamaremos Scolari de nosso, abriremos conta «no banco de sempre» e correremos atrás do autocarro da Galp e da selecção como no anúncio da televisão porque, entretanto, até boicotamos a gasolina.

De festinha em festança, talvez a sorte nos sorria a pontapé ou à cabeçada. Quando regressarmos ao que efectivamente somos, estaremos, de novo, orgulhosamente sós. Sempre entre futebol e Fátima, entre um golo e uma oração. E de regresso ao velho fado."
Miguel Carvalho - Visão

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