quinta-feira, dezembro 1

Chorar em Público - Miguel Esteves Cardoso


O Miguel Esteves Cardoso parece que sempre fez parte da minha vida: ora na televisão, ora nos livros ("O amor é fodido" foi lido e relido), jornais ou em revistas. Sempre o admirei e ele até casou com a Maria João no mesmo dia que eu casei com o mê Goto. Parece que se criou ali uma ligação de ternura pelo facto. O ano passado tinha acompanhado pelas revistas a luta contra o cancro da mama e a alegria quando disseram que o cancro tinha morrido. Hoje li esta crónica e, inevitavelmente, fiquei triste e de coração apertado pensando que poderia ser comigo. Miguel e Maria João, espero que tudo corra pelo melhor.




(28-11-2011)
"Quando sair este jornal, a Maria João e eu estaremos a caminho do IPO de Lisboa, à porta do qual compraremos o PÚBLICO de hoje. Hoje ela será internada e hoje à noite, desde o mês de Setembro do ano passado, será a primeira vez que dormiremos sem ser juntos.

O meu plano é que, quando me expulsarem do IPO, ela se lembre de ir ler o PÚBLICO e leia esta crónica a dizer que já estou cheio de saudades dela. É a melhor maneira que tenho de estar perto dela, quando não me deixam estar. Mesmo ficando num hotel a 30 passos dela, dói-me de muito mais longe.

O IPO consegue ser uma segunda casa. Nenhum outro hospital consegue ser isso. Podem ser hospitais muito bons. Mas não são como uma casa. O IPO é. Há uma alegria, um humor, uma dedicação e uma solidariedade, bem-educada e generosa, que não poderiam ser mais diferentes da nossa atitude e maneira de ser - resignada, fatalista e piegas - que são o default institucional da nacionalidade portuguesa. É graxa? Para que tratem bem a Maria João? Talvez seja. Mas é merecida. Até porque toda a gente que os três IPO de Portugal tratam é tratada como se tivesse direito a todas as regalias. Há muitos elogios que, não obstante serem feitos para nos beneficiarem, não deixam de ser absolutamente justos e justificados.

Este é um deles. Eu estou aqui ao pé de ti. Como tu estás ao pé de mim. Chorar em público é como pedir que nada de mau nos aconteça. É uma sorte. É o contrário do luto. Volta para mim."

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