Recebi este poema intitulado "Era tão pequeno!" por email. Mais alguém recebeu?
Era tão pequeno
que ninguém o via.
Dormia sereno,
enquanto crescia.
Sem falar, pedia
– porque era semente –
ver a luz do dia
como toda a gente.
Não tinha usurpado
a sua morada.
Não tinha pecado.
Não fizera nada.
Foi sacrificado
enquanto dormia.
Esterilizado
com toda a mestria.
Antes que a tivesse,
taparam-lhe a boca
– tratado, parece,
qual bicho na toca.
Não soltou vagido.
Não teve amanhã.
Não ouviu: “– Querido...”
Não disse: “– Mamã...”
Não sentiu um beijo.
Nunca andou ao colo.
Nunca teve o ensejo de pisar o solo,
pezito descalço.
andar hesitante,
sorrindo no encalço
do abraço distante.
Nunca foi à escola
de sacola ao ombro,
nem olhou estrelas
com olhos de assombro.
Crianças iguais
à que ele seria,
não brincou com elas
nem soube que havia.
Não roubou maçãs,
não ouviu os grilos,
não apanhou rãs
nos charcos tranquilos.
Nunca teve um cão,
vadio que fosse,
a lamber-lhe a mão,
à espera do doce.
Não soube que há rios
e ventos e espaços.
E Invernos e estios.
E mares e sargaços,
e flores e poentes.
E peixes e feras –
as hoje viventes
e as de antigas eras.
Não soube do mundo
Não viu a magia.
Num breve segundo,
foi neutralizado
com toda a mestria:
Com as alvas batas, máscaras de Entrudo, técnicas exactas,
mãos de especialistas negaram -lhe tudo
(o destino inteiro...)
- porque os abortistas nasceram primeiro.
Renato Azevedo (Advogado)
Santo Tirso, 1998
Era tão pequeno
que ninguém o via.
Dormia sereno,
enquanto crescia.
Sem falar, pedia
– porque era semente –
ver a luz do dia
como toda a gente.
Não tinha usurpado
a sua morada.
Não tinha pecado.
Não fizera nada.
Foi sacrificado
enquanto dormia.
Esterilizado
com toda a mestria.
Antes que a tivesse,
taparam-lhe a boca
– tratado, parece,
qual bicho na toca.
Não soltou vagido.
Não teve amanhã.
Não ouviu: “– Querido...”
Não disse: “– Mamã...”
Não sentiu um beijo.
Nunca andou ao colo.
Nunca teve o ensejo de pisar o solo,
pezito descalço.
andar hesitante,
sorrindo no encalço
do abraço distante.
Nunca foi à escola
de sacola ao ombro,
nem olhou estrelas
com olhos de assombro.
Crianças iguais
à que ele seria,
não brincou com elas
nem soube que havia.
Não roubou maçãs,
não ouviu os grilos,
não apanhou rãs
nos charcos tranquilos.
Nunca teve um cão,
vadio que fosse,
a lamber-lhe a mão,
à espera do doce.
Não soube que há rios
e ventos e espaços.
E Invernos e estios.
E mares e sargaços,
e flores e poentes.
E peixes e feras –
as hoje viventes
e as de antigas eras.
Não soube do mundo
Não viu a magia.
Num breve segundo,
foi neutralizado
com toda a mestria:
Com as alvas batas, máscaras de Entrudo, técnicas exactas,
mãos de especialistas negaram -lhe tudo
(o destino inteiro...)
- porque os abortistas nasceram primeiro.
Renato Azevedo (Advogado)
Santo Tirso, 1998
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