Os
linguistas da Porto Editora organizam, desde 2009, uma votação para
eleger a palavra do ano. No entanto, está em curso um escândalo
linguístico, e comigo não contam para o encobrir. A palavra, que é
escolhida segundo critérios de relevância e frequência de uso, sairá do
seguinte lote de candidatas: bombeiro, coadopção, corrida, grandolada,
inconstitucional, irrevogável, papa, piropo, pós-troika e swap.
Imagino que a perplexidade do leitor seja tão grande como a minha. Uma
lista das palavras mais utilizadas este ano da qual não consta, por
exemplo, o vocábulo "gatunos", que credibilidade tem? Para não falar, é
claro, nas palavras que estes linguistas, por vil racismo semântico,
deixam sistematicamente de fora. Palavras que, na sua maior parte, estão
dicionarizadas e têm uma utilização muito mais frequente do que
qualquer das finalistas.
Alguém ouviu, no decorrer deste ano,
desabafos do género: "Estes bandidos do governo levaram-me o 13.º mês.
Filhos duma grande coadopção"? Ou: "Já é a segunda talhada que me dão na
reforma. Se fossem mas era todos para o piropo"? Com quem convivem
estes linguistas?
Ricardo Araújo Pereira