sexta-feira, fevereiro 25

Se os ex-candidatos fossem donos de uma mercearia - Parte 2

Mercearia Portas
Rezava-se o terço antes de abrir e depois de fechar. Enormes retratos de Nossa Senhora alindavam as paredes. Os empregados seriam todos brancos, católicos e de classe média. Os cremes de bronzear estariam em promoção permanente. A mercearia daria lucro, mas este seria todo investido no FBI-L (Fundo para a Beatificação Imediata da Irmã Lúcia).

Mercearia Jerónimo
Mercearia colectivizada. Mercearia ao serviço do proletariado. Só três produtos: pão de ontem, vinho tinto e fita adesiva para calar as vozes dissidentes. Ocupar-se-iam as outras lojas do bairro. Todos os habitantes deste teriam que contribuir com uma taxa revolucionária para mandar vir bananas de Cuba. Oferta do jornal "Avante" a todos os clientes. Posters de Estaline, da Sibéria, de Saramago e da peça de Revista em que a deputada Odete estivesse na altura. Os empregados tratar-se-iam por camaradas e seriam incentivados à denúncia uns dos outros em troca de migas. Antes, depois e durante o trabalho, seria incentivada a leitura das memórias eróticas de Lenine e do tratado de optometria de Cunhal "Olhe que não, olhe que não".

Mercearia Louçã
Contrataria 1000 empregados- tal número seria devido às quotas, procurando evitar a discriminação das minorias, afinal, anões orientais homossexuais e transformistas nórdicos sofrendo de gigantismo também precisam de trabalhar. Faria auditorias permanentes para saber se as maçãs tinham sido todas vendidas ou se alguém andava a dar dentadas na fruta. Por cada quilo de bananas o cliente teria direito a um vale aborto. Os empregados não podiam usar gravata mas tinham que fumar três charros por dia. A heroína seria vendida ao mesmo preço da farinha e ao lado desta para estimular confusões (afinal são dois produtos poeirentos brancos de uso doméstico). Música ambiente por qualquer banda cuja popularidade andasse por baixo (ex: Pedro Abrunhosa, Kussundulola). Só se venderiam produtos portugueses ou norte-coreanos (eventualmente alguns feijões da Albania). A Mercearia declararia guerra aos Estados Unidos. Os empregados teriam direito a faltar sempre que alguém, em qualquer parte do mundo, se manifestasse contra fosse o que fosse. Decoração com posters de Trotsky, de pornografia homossexual e de Michael Moore. Não se venderiam laranjas por motivos ideológicos. Seria tudo feito com a mão esquerda.

(recebido via mail: desconheço o autor)

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