quinta-feira, agosto 21

Pesquisa Altamente Científica (vulgo P.A.C.)
Diz-se que nunca se deve fechar um livro antes de ler uma passagem do mesmo. Diz-se, ainda, que aquilo que se lê pode ser revelador e/ou premonitório. Ora, isto parece ser uma daquelas frases cheias de significado e de valor inquestionável. Mas será mesmo?! Sou por natureza uma rapariga desconfiada... mas.... não o serão todas as mulheres?!
A Gotinha decidiu pôr esta teoria à prova e colocando-me frente à Biblioteca cá de casa decidi fazer o meu trabalho de campo.
Lunetas na cara: ok!
Espírito aberto: ok!
3.... 2.... 1..... Começar!
Comecei pelo "Livro de Citações para Cínicos" de José Manuel Veiga não só para facilitar mas também para imbuir de alguma elevação o início desta pesquisa altamente científica: dizia “Todo aquele com mais de 30 anos que anda de autocarro é um falhado.” Começamos bem. Ainda bem que vou tendo dinheirinho para pagar a prestação do carrito, senão tinha já que engrossar as fileiras de falhados deste país. Uff...
Não desanimei e continuei. Abri “Estes Difíceis Amores” de Júlio Machado Vaz pensando que se o senhor é um afamado sexólogo iria descobrir algo sobre a minha sexualidade. Eis o que li: “A cidade é como as pessoas –quando se aprofunda, as cores vão-se afastando para nos deixar passar rumo ao fundamental.” Ah! Muito mais profundo. Pois.... mas que revelou sobre mim? Qual a premonição?!? Será que eu sou uma cidade? E, se sim, que é o Presidente da Câmara? Haverá corrupção política? Quantos hectares de mata arderam na cidade que eu sou?! Que canseira estas questões tão filosóficas.
Sigo para Bingo. Para aliviar a mente abro um livro infantil: “O Grilo Verde” de António Mota. Agora, sim! Agora tudo se revela perante os meus olhos: “Governo a minha vida como qualquer grilo e dou as minhas assobiadelas.” Pois então!! No plano humano (sim!, porque eu não sou um grilo... e muito menos uma grila!) que quererá isto dizer? Eu nem sei assobiar.
Quase, quase a desistir decidi abrir um último livro, impelida a fazê-lo pelo seu curioso título: “Empresta-nos o seu marido?” de Graham Greene. “A definição de solteirona na linguagem comum quer dizer hímen intacto. Uma mulher pode ter tido prolongadas relações sexuais consigo própria, ou com outra, sem se desflorar.” Juro! Juro que não estou a inventar nada; está na página 193, Bertrand Editora, 4.ª Edição. Grrr... não sou solteira nem solteirona. Que mensagem subliminar é que retiraria desta passagem?! Bah!!
Esta P.A.C. terá que terminar aqui. O resultado é por demais óbvio. Podem fechar um livro à vontadinha sem ler uma passagem. Aliás, do alto dos meus medalhões (de pescada, é claro!!) de Pesquisadora até vos aconselho a fechar o livro de mansinho e fugir de todas essas pseudo-revelações. Psiuu... em bicos de pés..... afastem-se dos livros... chiuuuu....

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